“Julianne Moore tira de personagem com Alzheimer uma atuação inesquecível”
Por Luís Gustavo Fonseca
Em dado momento do filme, Alice (interpretada por Julianne Moore) crava: “Preferia ter câncer”. A frase pode até soar demasiadamente forte, mas tem um bom encaixe no filme, ao revelar o quão intenso o mal de Alzheimer afeta a vida dos diagnosticados e de seus familiares. Alice, professora de Linguística na Universidade de Columbia, tem sua vida drasticamente afetada após ser diagnosticada com um tipo raro da doença. Aos poucos, acompanhamos o doloroso processo de perda de memória da personagem.
O filme é roteirizado e dirigido pela dupla Richar Glatzer e Wash Westmoreland, e a dupla tem acerto nos dois quesitos. No primeiro, o ritmo dado e a condução da história como um todo são ótimos. O modo como a doença é trabalhada no longa é um dos destaques, começando com pequenas sutilezas, como a personagem esquecendo alguma palavra em uma apresentação, encontros marcados ou onde se encontra. Até chegar aos estágios mais avançados, na qual ela esquece onde fica o banheiro de sua casa ou o nome da própria filha. As relações de Alice com seus familiares também é crucial para a eficácia do filme, com destaque para os eventuais desentendimentos dela com o marido John (Alec Baldwin) e uma de suas filhas, Lydia (Kristen Stewart). Tudo realizado com devido esmero.
Na direção, o destaque fica para a câmera que sempre procura o rosto de Moore e, desta forma, permite tirar da atriz o seu máximo, o que foi essencial para sua vitória no Oscar deste ano. Outro detalhe bastante interessante é uma representação visual de como a doença vai prejudicando a memória de Alice no decorrer do filme. Como a câmera foca muito em um primeiro plano, temos, em várias cenas, um segundo plano embaçado. É como se as memórias da personagem também fossem ficando embaçadas, distantes, esquecidas.
Nas atuações, é aprovado o trabalho do elenco de apoio, sobretudo de Baldwin e até mesmo da Kristen Stewart, quem diria, que funciona muito bem como contraponto para a mãe no filme. Mas o destaque não poderia ser outro se não Moore. Tenho a impressão que, no geral, o público não gosta da atriz. Mas aqui, é difícil não reconhecer o trabalho dela, merecedor de levar a estatueta. Todos os conflitos (internos ou externos) e suas emoções são expressadas de maneira digna.
Em um ano em que um dos maiores problemas que eu tive com o Oscar (além de claro, o esquecimento de Uma Aventura LEGO em Melhor Animação e a questão do “Oscar White”) foi em relação à categoria de Melhor Atriz, Moore fez por merecer. Tivemos outras boas interpretações, claro, como a de Reese Witherspoon por Livre, ou de Felicity Jones por A Teoria de Tudo, mas nenhuma delas parecia apresentar aquele diferencial, algo que fosse realmente marcante. Algo que Moore conseguiu. Ainda prefiro o trabalho de Rosamund Pike em Garota Exemplar, mas suspeito que seja muito mais por causa da personagem do que pela atuação em si. O importante é saber que o Oscar ficou em boas mãos.